O esperado retorno do Rock de Protesto
Aos trinta e cinco anos do lançamento do aclamado e idolatrado álbum London Calling do The Clash (como foi muito bem lembrado pelo honorável A vida numa Goa), estamos vendo um retorno do rock de protesto no Brasil com várias bandas fazendo parte de uma movimento difuso, mas profundamente representativo.
Dá o Play aí, mano!
Em contraposição ao pós-punk do Clash, que acabou por influenciar toda uma geração de bandas brasileiras dos anos oitenta, vivemos um período de maior maturidade e de críticas mais direcionadas e específicas.
De fato, passamos de O Teatro dos Vampiros (voltamos a viver como a há dez anos atras, mas a cada hora que passa envelhecemos dez semanas) para coisas tão diretas quanto o Encontro de Lampião com Eike Batista da maravilhosa banda carioca El Efecto.
O El Efecto é um capítulo à parte nessa nova seara, haja vista ter sido trilha sonora obrigatória dos protestos que assolaram a cidade maravilhosa no ano passado. Deve ter sido muito bom para eles ter ouvido suas músicas (do fabuloso disco Pedras e Sonhos) terem sido cantadas pela multidão enlouquecida. Mas é realmente difícil não pensar que letras como a que dá título ao disco foram feitas para quem estava na rua no ano passado.
Pedras são sonhos na mão
Voam na imensidão
Ideias que ganham vida e criam asas
Voam na imensidão
Meus sonhos, minha canção
Pedras e sonhos são nossas únicas armas
Provavelmente a banda vai receber deste site uma resenha mais completa no futuro próximo. O importante é que não é um exemplo isolado. Ao contrário, podemos enumerar vários exemplos de bandas brasileiras que lançaram discos de protesto nos últimos doze meses, principalmente as tradicionais que estão em um movimento de retorno ao bom e velho Rock and Roll. Vamos falar de algumas a seguir:
Plebe Rude:
Uma das mais consistentes bandas representativas do velho rock nacional, a Plebe está de volta com o fabuloso disco de inéditas Nação Daltônica, ainda não lançado oficialmente. Porém, você pode ouvir as músicas dele em sequência no vídeo acima que foi uma entrevista da banda na rádio 89 em agosto.
Com a ensandecida verve pós punk e arranjos inimitáveis, a Plebe volta com força total num dos exemplos de banda que é sempre capaz de retornar a seus caminhos. Nação Daltônica tem tudo para ser um dos discos exemplares da retomada do rock de protesto. Infelizmente, como a banda é avessa aos meandros tradicionais de divulgação de seu trabalho, é bem provável que não vejamos as belas canções do disco fazendo sucesso.
O Teatro Mágico
Conhecido pelas músicas românticas e pelo clima bucólico de Entrada para Raros e o Segundo Ato, agora a banda voltou com uma pegada muito mais introspectiva. Arranjos mais pesados, riffs marcados, linhas de baixo tensas, efeitos de bateria: tudo isso tem um efeito cênico e musical espetacular numa banda que se reinventou. Até mesmo as famosas pinturas dos membros foram reformadas para dar vazão a esse novo momento da banda.
E isso inclui pérolas como a belíssima Da Luta
É de se pensar
Do que cabe nesse riso!
É de se perceber
Onde a vida vira vício
Quiçá nosso caminho
Não mais encantará
Nos dissonando a harmonia
Em cada solo seu
Memória nos trará
Flores de branda valentia!
É de se pensar!
Do que cabe nesse riso!
É de se perceber
Onde há amor
Há sacrifício!!
Fabuloso!
Titãs
Eu nunca pensei que fosse voltar a falar dos Titãs com algum respeito na minha vida. Falo isso principalmente como fã que acompanhou a derrocada de um dos mais criativos e conceituais grupos musicais já criado nessa terra tupiniquim. Com a imagem destruída por discos sofríveis como A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (WTF????) e Como Estão Vocês? o grupo entra em 2014 com o surpreendente Nheengatu.
Com uma sonoridade que lembra muito o clássico Cabeça Dinossauro, com letras ácidas e polêmicas, falando de temas tão díspares como pedofilia, religião e violência contra os animais, a banda criou um dos próximos clássicos do rock nacional. Os arranjos estão na medida e as letras carregam muitos dos gritos de guerra das batalhas campais das ruas (Você aí fardado também é explorado). Vai me dizer que isso aqui embaixo não é um grito de guerra:
Pintado pra batalha com sujeira, piche e carvão
Escuto o som da cachoeira na avenida São João
Sigo o rumo da floresta no Viaduto do Chá
Na selva de concreto, estou pronto pra lutar
Cansei da fome, do crack
Da miséria e da cachaça
Cansei de ser humilhado
Sou o mensageiro da desgraça
É isso, pessoal. Essas são apenas algumas das dicas dos espetaculares novos discos que estão saindo do forno neste ano. Conhece alguma outra banda com um trabalho conceitual inovador que também está bebendo da fonte dos protestos do ano passado? Deixe o seu recado aí nos comentários.
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